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sábado, 7 de maio de 2016

Mãe: menos elogio, mais apoio



Dia das mães chegando, a TV fica insuportável.


Constatei, enquanto esperava para um consulta, e tinha uma tv ligada.


Era um tal de "Mãe é incansável", "multitarefas", "sofre sorrindo", "fica sem comer e sem dormir feliz".


Pro inferno vocês.


Eu me canso sim, eu fico de saco cheio sim. Eu já chorei de tanto sono, já adormeci no banho com minha filha nos braço, já quase dormi no volante (veja que perigo) e por isso fui trabalhar de ônibus, por medo de bater o carro e matar todas nós. Já senti tanta fome que levei tombos ao levantar.


Sabe o que é isso que eles estão fazendo?


É a glamourização da sobrecarga, do abandono materno. Abandonar a mulher na solidão de criar um bebê, ao invés de se compartilhar todo o cuidado. SE CADA UM FIZER A SUA PARTE, não vai ter mãe sofrendo com sobrecarga, sem nem poder dormir ou comer.


As sobreviventes desse massacre são exaltadas como Super Mães. Como modelos a serem seguidos. O discurso é o mesmo, ora mais velado, ora mais explícito:


"Vai lá, só você consegue cuidar", "é tua obrigação e de mais ninguém", "se algo acontecer a culpa é sua."


Eu digo um grande NÃO, eu não fiz sozinha, não embalo sozinha. Filho não é castigo. Eu não sou feita de um material diferente "incansável". Eu sou uma pessoa, não sou nem serei capacho da sociedade do tipo "deixa, sacrifica a mãe, a culpa é dela da criança existir".


Filho é um novo morador de nossa comunidade, que precisa ser recebido por todos com amor.


Quer fazer uma grande propaganda de dia das mães?


Pare de nos tornar invisíveis, capachos, sacrificadas heroínas. Eu quero é apoio, co-responsabilidade. Eu quero é sororidade.


Quer fazer campanha? Nos permita sermos protagonistas das campanhas, não objetos dos desejos e sonhos sociais.


Se tem uma mãe sobrecarregada, é porque provavelmente nós enquanto sociedade estejamos errando com ela, deixando de apoiar.


A realidade, é quando uma mulher engravida, toda uma comunidade gesta em energia. Quando nasce, chega uma responsabilidade coletiva pelo bem estar da mãe e do bebê.




Quer fazer algo útil pelo bebê, lembre a sociedade do papel dela em amparar a mãe.


Como?


Por exemplo, singelo e cotidiano:


Hoje, uma moça chamada Luci me fez companhia e me ajudou a andar com a minha filha até a parada de ônibus. Ela pegou a Yara no colo e colocou na cadeira, ao meu lado. Cuidou para ela não correr na rua, enquanto eu amamentava a Flora e carregava a mochila. Brincou com ela.




Eu não conhecia Luci. Ela não me conhecia. Isso não impediu ela de sentir-se responsável, nos fazer companhia e nos apoiar. Entende? Qualquer pessoa pode apoiar, em maior ou menor escala.


Depois, encontrei minha amiga Natalia, que sempre me ajudou muito, matamos a saudades uma da outra, cuidou da Flora, passeamos juntas.


Até o filho dela de quase 9 anos sabe da importância de nos ampararmos. Ele disse "Eu pedi altas da brincadeira duas vezes, falei 'esperem, vou cuidar da minha priminha" . O parentesco é distante, mas ele a considera (e é) prima sim. Ele se considera também responsável.

Nesse dia das mães eu não quero elogios, eletrodomésticos ou produtos de beleza.


Eu quero que você arregace as mangas é vá amparar a mãe mais próxima, seja ela a sua ou não.

#somostodosresponsáveis
#quempariumateusquerumcafé
#mãesdemãosdadas
#maisamorentrenós

escrito por: Elisa Lorena

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